Há profissionais mais antigos no serviço público de Campinas e que talvez tenham vivido greves tão grandes como esta. Eu não. Vivi outras sim, por outros motivos até, como a greve contra o Plano de Cargos, a grande brecha que o governo escancarou para as terceirizações e desqualificação dos servidores. Mas sempre com poucas adesões, na luta por levar mais alguns colegas de cada unidade.
Hoje, saem comandos de greve para trazer outras Unidades! Sim, Unidades inteiras fechadas! Eu não tinha vivido isso!
Por este motivo penso: como neste momento histórico, como com tanto respaldo de um movimento feito dentro da legalidade e tão grande, ainda temos colegas trabalhando nas unidades, com tanto trabalho a ser feito, em Movimento, no Paço Municipal? Penso, se não param nessa greve, se não se manifestam desta vez... quando então?
Em uma greve que tem tanta adesão e por isso mesmo tanto assédio moral e pressões para o retorno ao trabalho, o papel cumprido por quem fica na escola e não se une ao movimento é não só de enfraquecimento da greve, como da exposição dos colegas. Quem fica na escola fica entre a ‘cruz e a espada’ na dúvida se encaminha ou não nomes dos grevistas as NAEDs, se substitui ou não colegas em greve, se refaz horário de aula, se vê na situação de ‘assinar o ponto’ sem ter alunos, tendo que repor estas aulas mesmo sem aderir ao movimento, sofre as cobranças da comunidade sem ter condições de argumentar a favor da luta... E mais não sei quantos sofrimentos (assim como nós, em greve) passa!
Não vejo como construirmos parcerias de luta pelo serviço público de qualidade com as comunidades que atendemos com metade dos professores trabalhando, outros em greve, outros que não estão em greve nem trabalhando, pois os alunos não têm comparecido às poucas aulas... Que coletivo constituímos? Penso que mais coerentes são os que apesar do medo e da insegurança presente em todo local de trabalho, decidem fechar as portas da escola e coletivamente enfrentarem a as conseqüências da luta. Como grupo enfrentarão! Na Unidade de trabalho e como parte de um coletivo maior: de servidores públicos em greve!
Que profissionais somos nós que frente a possibilidade de construirmos uma unidade de luta escolhemos a solidão e a omissão?
Lourdinha nos perguntou em outro texto postado em nosso BLOG: “Você acha que nós, profissionais da educação municipal, não temos motivos para participar desse movimento coletivo que busca lutar pela melhoria da qualidade da educação no município?”
Quem vai às ruas gritar ‘aos quatro ventos’ as más condições de trabalho que temos, a imoralidade de um governo que tem um número absurdo de comissionados que todo mês tira milhões (!) dos nossos bolsos, que qualquer trabalhador merece que seu salário seja corrigido pelo menos para que a inflação não o reduza?! Quem luta por estes direitos?
Os servidores ainda podem fazer uso do direito da greve, apesar dos jornais insistirem em argumentos contra leis que asseguram esta possibilidade. Nós ainda podemos além de lutar por direitos trabalhistas, denunciar o que vem sendo feito com o dinheiro público! Quem mais consegue fazer isso hoje?
A unidade do movimento pode abreviá-lo e podemos todos retomar aos nossos locais de trabalhos mais fortalecidos, seguros de que ainda temos força para brigar, não somente por direitos nossos, mas pela qualidade do serviço oferecido à população da cidade.
Infelizmente, tenho ouvido com freqüência a música “Comportamento geral” de Gonzaguinha por estes dias e lembrado de algumas colegas... Foi ela, tocada no rádio há minutos atrás, que mobilizou esta escrita... Não merecemos o que temos vivido!
Comportamento Geral
Composição: Gonzaguinha
Você deve notar que não tem mais tutu
e dizer que não está preocupado
Você deve lutar pela xepa da feira
e dizer que está recompensado
Você deve estampar sempre um ar de alegria
e dizer: tudo tem melhorado
(...)
Você deve aprender a baixar a cabeça
E dizer sempre: "Muito obrigado"
São palavras que ainda te deixam dizer
Por ser homem bem disciplinado
Deve pois só fazer pelo bem da Nação
Tudo aquilo que for ordenado
Pra ganhar um Fuscão no juízo final
E diploma de bem comportado
(...)
Você merece, você merece (...)
Texto enviado por Mafê.
3 comentários:
Mafê e todos os demais que tem escrito neste espaço. Fico extremamente feliz em ver essa produção fervilhante de coisas bonitas...Juntos, somos mesmo muito mais fortes!Parabéns a nós todos!
Lourdinha
Merecemos aquilo que, mesmo conscientemente não sabendo nós expressarmos, nosso coração e nossa mente saiba produzir através de nossos atos, pensamentos e palavras: um serviço público de qualidade apesar das mazelas vividas quotidianamente por seus servidores em relação ao atendimento das condições minímas de trabalho! Campinas ainda é o melhor lugar desse país e o é por causa da luta contínua, fervorosa, intelectual, pacifista e renomada dos seus servidores públicos: vide as conquistas obtidas na história dessa cidade por meio da organização de seus trabalhadores! Os índices poderão ser melhores ainda, depende de nós, se não acreditarmos que merecemos só o que um político que não valoriza sua própria imagem como prefeito da cidade de Campinas dá como esmola: somos profissionais e os índices positivos dessa cidade são resultados da sugação de nossas forças, sequer reconhecidas por esse mesmo falador de promessas em palco de campanha, mas o que é verdade aparece e aí está: estamos em greve porque honramos nosso trabalho e a qualidade dele, para mantê-lo precisamos de condições e remuneração condizente.
Paramos para nos fortalecer e nos conscientizar de quem somos e do queremos, não merecemos e não oferecemos qualquer à população da cidade de Campinas, pois somos parte dela e usamos e queremos a qualidade que podemos oferecer nos serviços que prestamos nos postos de atendimento deste município. O que é da Lei deve ser cumprido, está inclusive nos livros religiosos e não negado por qualquer pessoa de bem!
Continuemos nossa luta e nos unamos, pois fortes somos ao vencermos o medo e paramos, para dar uma basta no descaso!
Acho que o trecho da música enviada pela Mafê é a mensagem mais forte aos colegas em estágio probatório. "Não queremos um diploma de bem comportado".
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