quarta-feira, 27 de maio de 2009

Que respeito merecemos?

Num principio ético e moral, para que um homem seja considerado nobre é preciso que ele sempre diga a verdade e exprima com independência e altivez aquilo que acredita; as suas idéias e as suas opiniões. Sei que muitos deles estão presentes no cenário político. Pessoas assim, não se intimidam nem se acovardam diante de um conflito.
A reivindicação dos servidores públicos de Campinas é justa! A greve é um ato em favor da legítima defesa, pois estamos diante de uma das cidades que mais arrecada e tem o quadro de governantes e políticos com os salários mais altos do País. Portanto senhor está também diante de um povo trabalhador e honesto, de um trabalhador do serviço público comprometido com a luta pela qualidade do seu trabalho em favor da população.
As nossas escolas estão nas regiões menos favorecidas, estão nos cinturões de misérias onde conhecemos a dura realidade. Convivemos com a dor daqueles “que mais precisam.” É lá que a fila de espera por vagas em creches é um eterno lamurio; é lá que os adolescentes estão mais vulneráveis, inseguros e, portanto mais indisciplinados e agressivos; é lá que a criança sofre as conseqüências do abandono social que deságua na escola; é lá que temos mais de 40 alunos em sala de aula se espremendo no pouco espaço físico que lhes é oferecido; lá também se debatem na fila da merenda em busca talvez da única refeição diária; é lá que se concentram um número muito maior de crianças com as mais diferentes necessidades especiais e que necessitam além de atendimento especializado uma atenção redobrada para que não se machuquem, não machuquem os outros e ainda dentro de suas limitações consigam aprender a caminhar com independência.
Sou profissional de uma unidade escolar que já foi modelo em educação (leiam-se arquivos e atas). Hoje o que vemos a exemplo de toda a Rede educacional é o aumento do esgotamento físico e principalmente emocional, um número muito grande de profissionais estão afastados do trabalho. Ronda também este cenário a ausência de perspectivas de desenvolvimento profissional que deveria ser feita por uma política de formação continuada mais sólida e pautada principalmente nas necessidades específicas desta realidade. Vemos a desprofissionalização ser instituída através da crescente terceirização de serviços ou de parcerias com serviços privados.

Se não bastasse todo o desgaste que sofre os profissionais do serviço púbico, àqueles que passaram pelo governo nos últimos anos se encarregaram de agravar ainda mais a situação, hoje basta visitar algumas unidades de serviço publico para constatar as precárias condições de trabalho, muitas delas já denunciadas pela comunidade. Posso, com muita propriedade e tranqüilidade, mostrar a verdade dos fatos. As unidades escolares estão em “pé de miséria”. As bibliotecas carecem de um programa de funcionamento mais sólido. Os laboratórios de informática estão sucateados e os estagiários desapareceram do ano passado pra cá. Não precisamos de engenheiros para perceber que fiação elétrica está comprometida, que a chuva no interior das escolas vem danificando ainda mais alguns equipamentos. O mato cresce dentro das creches escolas e pré-escolas. Alguns alunos muniram-se de enxadas e enxadões para inicio das aulas de educação física. Carteiras e mesas quebradas já se tornaram comum. Os livros didáticos não são suficientes para toda turma. E por aí vai...

Diante deste contexto o leitor pode perguntar. Cadê o Diretor? Eu também caro leitor faço a mesma pergunta. Cadê os especialistas? Diretores? Os Vices? Os Orientadores Pedagógicos? Os professores devidamente habilitados para a área do conhecimento que vão atuar? Por que estão enroscados nas listas do último concurso público? Aqui meio sem saída arrisco um palpite. Estaria o Governo tentando economizar a custa do Serviço Público? Estaria esquecendo-se daqueles que mais precisam? Tudo isso as escâncaras e com a conivência dos guardiões eleitos pelo povo? O Governo quer o que o trabalhador fique de joelhos diante de uma negociação que precisa ser vista com seriedade e verdade de ambas as partes. Aceitar hoje o percentual de 3% e sem perspectivas de negociação para o benefício do vale alimentação seria o mesmo que assinar um contrato de humilhação pública.

Durante a manifestação dos servidores, um humilde e desprovido cidadão campineiro nos disse já desacreditado “Eita! num adianta lutar ELE está com a caneta na mão...” Apontando para o Paço Municipal. Então? Use-a com o mais sincero respeito que merece o trabalhador do serviço público.

Maria Rosely Poletto Ignácio
poletto@rosely@hotmail.com
Professora de Educação Relações Econômicas e Tecnologia

4 comentários:

Maria Pinheiro disse...

Parabéns por essas palavras tão bem escritas, professora. Confesso que as li com muita emoção, mas com muita raiva também porque estou nessa Rede Municipal de Ensino desde 1993 e é muito triste mesmo perceber o descaso com que os nossos governantes têm tratado as nossas escolas e a Educação de um modo geral.
Por isso mesmo parece que essa greve vai muito além de uma batalha por melhorias salariais. Parece que nós, servidores da Educação, estamos com muita coisa presa na garganta, coisas que precisam ser ditas através de gritos e urros. Não dá mais pra segurar...

Cláudio disse...

Rosely, gostei muito do modo como você retratou a situação do serviço público municipal! Sentimo-nos desrespeitados não só quando nossos salários são ultrajados mas quando as condições de trabalho e as políticas públicas não contribuem para um atendimento da população com qualidade. Acabo de assistir ao jornal regional da EPTV e, mais uma vez – apesar da passeata com mais de 3 mil servidores, pelas ruas do centro – o nosso movimento não apareceu. O preço desta invisibilidade: terminado o jornal, saiu matéria da Prefeitura escondendo as finanças da administração e intimidando os servidores em greve com ameaças. O tom da intimidação dava pistas sobre o tamanho do movimento que se queria esconder. Ainda fico enojado com as relações espúrias entre a mídia e o poder público. Mas fico ainda mais preocupado quando percebo que a lógica do “fazer de conta que não existe” tem orientado a administração municipal na forma de lidar com os problemas do serviço público, contribuindo para sua degradação. Não me consta que a preocupação da administração com as aulas que não estão sendo dadas e a prontidão em substituir os professores grevistas tenha existido até então quando centenas de crianças, adolescentes, jovens e adultos têm ficado sem aulas, na maioria de nossas escolas. Aulas vagas, professores dando aulas em duas salas ao mesmo tempo, dispensa de turmas em forma de rodízio viraram lugar comum nas escolas de ensino fundamental do município. Isto devido à redução forçada da jornada de professores, à desorganização no processo de atribuição de aulas, ao afastamento de professores para trabalhar em outras funções. E a solução, quando chega, tem sido a criação de uma falsa normalidade: professores adjuntos obrigados a dar aulas, por tempo indeterminado, de componentes curriculares para os quais não têm formação. Ameaças e desrespeito têm que ser tratados com indignação e mobilização! “Que respeito merecemos?” Aquele que conseguirmos conquistar!

Dilma disse...

É isso aí companheiros!!!!
A luta continua!!
Essa truculência tem que acabar!!!
Por melhores salários e condições de trabalho, JÁ!

Dona Vera disse...

Cara professora, Parabéns pela clareza que relata a situação que vivevos. De agora em diante é pergnutar também a população que respeito ela tem merecido deste "Senhor". Aluta para tirá-lo do cenário político precisa ser mais forte. Por isso e por outras, que aceitar estes 3% é humilhante. O Prefeito tem que ser sensibilizado, por nós ou pela justiça que venha o Impeachement dele!!
A cidade agradece.