quarta-feira, 3 de junho de 2009

Apoio

Como diz a frase de Martin Luther King, "o que me incomoda não é a violência dos brutos, mas o silêncios dos justos". Não dá mais para nos acovardarmos. Quem está desanimado com a greve, é hora de voltar com tudo. O governo não pode passar o rolo compressor militar por cima da gente, nos acusar na imprensa e terminar assim com a greve.

Temos que pensar não só individualmente, mas enquanto cidadãos e como parte de uma espécie maior. Em que tipo de cidade eu quero e mereço viver? Numa cidade onde a força militar é quem manda? Não é só por mim, luto para que o serviço público continue existindo e para que meus filhos não percam o direito de sonhar.

Hoje vou para a assembleia não só em meu nome mas no nome de todos aqueles que lutaram para defender o serviço público e para que a ditadura acabasse. Não quero meu nome inscrito na multidão daqueles que se acovardaram. Que passem suas tropas de choque, porque lá estarei com meu corpo de sonho e de margarida.

Quando vi a tropa de choque um poema do Gullar veio muito forte na minha cabeça. Será que posso divulgar?

Grande abraço
Patrícia


Homem Comum - Ferreira Gullar

Sou um homem comum
de carne e de memória
de osso e esquecimento.
e a vida sopra dentro de mim
pânica
feito a chama de um maçarico
e pode
subitamente
cessar.

Sou como você
feito de coisas lembradas
e esquecidas
rostos e
mãos, o quarda-sol vermelho ao meio-dia
em Pastos-Bons
defuntas alegrias flores passarinhos
facho de tarde luminosa
nomes que já nem sei
bandejas bandeiras bananeiras
tudo
misturado
essa lenha perfumada
que se acende
e me faz caminhar
Sou um homem comum
brasileiro, maior, casado, reservista,
e não vejo na vida, amigo,
nenhum sentido, senão
lutarmos juntos por um mundo melhor.
Poeta fui de rápido destino.
Mas a poesia é rara e não comove
nem move o pau-de-arara.
Quero, por isso, falar com você,
de homem para homem,
apoiar-me em você
oferecer-lhe o meu braço
que o tempo é pouco
e o latifúndio está aí, matando.

Que o tempo é pouco
e aí estão o Chase Bank,
a IT & T, a Bond and Share,
a Wilson, a Hanna, a Anderson Clayton,
e sabe-se lá quantos outros
braços do polvo a nos sugar a vida
e a bolsa
Homem comum, igual
a você,
cruzo a Avenida sob a pressão do imperialismo.
A sombra do latifúndio
mancha a paisagem
turva as águas do mar
e a infância nos volta
à boca, amarga,
suja de lama e de fome.

Mas somos muitos milhões de homens
comuns
e podemos formar uma muralha
com nossos corpos de sonho e margaridas.

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